QUAIS AS CORES DA REVOLUÇÃO

Os movimentos politico/ sociais não tem personalidade própria. E digo politico/ sociais pois, ao invés de reivindicarem direitos e garantias, hoje eles apenas se prestam a servir a grupos de interesse com falsas agendas ideológicas. Tais movimentos, seja de liberais ou conservadores, foram tomados pelo maniqueísmo partidário, ao passo que, na esquerda, as ideias de “liberdade, igualdade e fraternidade” foram substituídas por interesses burocráticos absolutamente irrelevantes e transitórios, como “quais as cores da revolução”.

O próprio Vladimir Safatle, professor militante filiado ao Partido Socialista Brasileiro – PSOL, manifesta reiteradamente a sua frustração perante a nova “esquerda globalizada”, ou, como diz: “constelação de progressismos”. Como defende o professor, o movimento da esquerda se deixou levar pelos relativismos conjunturais das frentes políticas, servindo de instrumento social para as suas manobras.

Nos dizeres do eterno Sir. Roger Scruton: “o esquerdista é tipicamente um jacobino”, que, destinado ao fatídico fim de perder-se em si mesmo, constata-se invariavelmente como uma marionete cuja única utilidade é a de substituir momentaneamente os altos impostos pela guilhotina: sem mais lutas contra a desigualdade social, hoje ela se perde nos próprios pronomes.

Isso começou há algumas décadas com movimentos das mais diversas linhas diretivas. Se espalhando como uma praga e um solo fertilizado pela liberdade, eles criaram raízes ao serem regados com a água da indiferença daqueles que os deviam oposição.

A exemplo, faço-me recordar do episódio “Brent Spar”, em que, após pressão extraordinária do greenpeace, a Shell, que planejava afundar a sua petrolífera desativada em algum lugar do oceano atlântico, foi obrigada a empreender uma mobilização extraordinária de esforços, desmontando toda a coisa para que as suas partes pudessem ser transportadas e descartadas em terra firme. O que não contavam os ativistas é que o resultado de esforços fez com que o quantitativo de poluentes liberados com todas as máquinas utilizadas superasse enormemente aquele de primeira instância.

Para os que não entenderam a ironia, o greenpeace deveria se prestar a uma causa ambiental, quando na verdade, os resultados originais a que se dirigia o grupo, assim como os de todos os movimentos de esquerda no ocidente, foram substituídos pela necessidade de divulgação ideologia, qualquer seja o preço. “Geenpeace impede que petroleira seja afundada no oceano”, mesmo que, na prática, a quantidade de prejuízo ambiental causada tenha sido imensuravelmente maior.

Pouco importa se os efeitos práticos são coerentes à pauta, assim como a manchete supera o texto, o relevante tronou-se a supressão de quaisquer orientações políticas adversas ao establishment, mesmo que isso signifique um grupo de defesa do meio ambiente liberar bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera.

No passado, ao menos a orientação progressista almejava um fim prático razoável, como a derrocada de um regime absolutista, ou embate feroz a uma alta taxa de impostos , por mais cruel e desastroso que o empreendimento tenha sido. Hoje, serve-se a sopa na colher para comê-la com o garfo.

Se indagado sobre o que seria uma mulher, um transgênero alegará ser “aquilo” que se identifica como uma mulher, se criticado pela defesa do aborto, o progressista dirá tratar-se de um direito de vida. Quando não se usa uma conclusão para justificar a própria conclusão, o novo ativista defende o contrassenso e a incoerência: de identificar-se como gatos a sentir atração sexual por montanhas russas, eis as suas manchetes (pesquise-as).

O escrutínio da verdade se dá, em grande parte, para além da falência das instituições como família e igreja, na guarida de direitos que a própria liberdade, tão arduamente conquistada, outorgou: ser burro e ser comandado por interesses alheios. 

O espaço de fala desses mesmos que se manifestam em defesa de tais barbáries, defendendo a desconstrução dos pilares ocidentais (filosofia grega, moral judaico-cristã e direito romano), espelha a ironia de que é destes últimos que partiu o seu privilégio de poder se expressar.

Afinal, somos todos herdeiros de dois milênios e meio de extraordinário empenho intelectual com as referidas disciplinas do conhecimento que, indiscutivelmente, ainda que acompanhadas de falhas inafastáveis na sua aplicação, reflexos das nossas próprias imperfeições, nos oportunizaram o momento de maior liberdade que já houve na história da humanidade. Lamentavelmente, o horizonte acusa, no primeiro clarão de luz do dia, o ecoar dos dizeres de Scruton: os fantoches estão por trazer a guilhotina mais uma vez.