Em 11 de abril de 2025, realizou-se mais uma edição do Clube, cujo tema orbitou a arte poética — não apenas enquanto expressão estética, mas como fenômeno filosófico e, em certo grau, político.
O encontro contou com a valiosa contribuição de Rafael Ribeiro Bueno Fleury, advogado e poeta, que compartilhou sua trajetória literária entrelaçada à própria experiência de vida, como se ambas, em dado momento, tivessem deixado de ser distintas.
Com sensibilidade e aguda consciência do “fazer poético”, Rafael apresentou-se como um poeta de fases, evocando, por analogia, a evolução lírica de Drummond — cujas metamorfoses expressam não uma ruptura, mas um aprofundamento existencial.
Entre leituras e reflexões, discutiu-se o fazer poético como exercício de atenção, observação e incorporação daquilo que circunda o autor: o tempo, o espaço, os símbolos, a linguagem e a tradição que o molda. Considerações que contrastam e, por vezes, reafirmam o pensamento clássico filosófico sobre a poética.
Em que pese Platão, ter visto a poesia com desconfiança em tratando-se de uma arte mimética, Aristóteles enxergou nela um traço essencialmente humano, uma faculdade que, ao permitir a representação do outro, se tornava também instrumento de aprendizado.
A poesia, para Aristóteles, era mais filosófica do que a história, pois lidava com o universal, e não apenas com o particular, é verdade. Mas nem por isso, como demonstrou Northrop Frye, o poeta poderia se afastar da sua própria realidade. É partindo dos elementos próprios de sua experiência, vida e cultura que o poeta consegue atingir algo mais grandioso e universal pela escrita.
Shakespeare não se viu contido pela ilha inglesa, assim como Homero não se viu preso dentro dos portões de Troia por muito tempo.
Em que pese o tipo de expressão filosófica ter sido alterado, tornando-se cada vez mais lírica e menos proseada, mais sentimental-evocativa e menos trágica, ela jamais deixou de ser um canal legítimo de refinamento moral, político e espiritual. Por meio da poesia o homem não apenas se via representado, mas purificava seus afetos: a famosa katharsis.
Ainda hoje, a ciência ensaia compreender o impacto da arte sobre o corpo e a mente. A leitura de versos de poetas como Hölderlin, por exemplo, tem sido objeto de estudos sobre o modo como a linguagem poética reorganiza nossas disposições internas e influencia até mesmo o ritmo biológico e emocional de quem lê ou ouve, atuando quase como uma forma de cura silenciosa. Na poesia, o que se vê é um tensionamento entre forma e experiência.
Rafael abordou esse tema com sensibilidade: a poesia, disse ele, é mais do que a métrica em que está inserida; é uma forma de presença. Um modo de viver a realidade com espanto e entrega. A boa poesia, portanto, não apenas imita, como receou Platão, ela revela. E ao revelar, transforma.
A noite terminou com a declamação de versos que percorriam as distintas fases da obra de Rafael. Em comum, havia sempre o olhar que ultrapassa a superfície, que extrai do cotidiano sinais do transcendente. Entre memórias da Vila Boa Goiânia e reflexões de cunho existencial, seus poemas reiteraram o verdadeiro sentido da arte: tornar visível o invisível, dar forma ao essencial onde antes havia apenas o banal.