Não Vem Mais

“O mal do brasileiro é sonhar demais”, disse Gilberto Freyre empunhando o seu famigerado ceticismo há algumas décadas. A frase icônica, sem prazo de validade, tornou a ecoar nos corações daqueles que mais aguardavam boas notícias para o ano novo da Seleção Brasileira. Lamentavelmente, mais uma vez a expectativa se converteu em desgraça, o êxtase em amargor e a epifania em lamentação. Com o sol já a pino no além mar, na manhã do dia 29 de dezembro de 2023, eis a bomba divulgada por um jornal espanhol: C. Ancelotti renova com o Real Madrid até 2026.

O técnico italiano, por muitos considerado o melhor do mundo, era cotado para assumir o cargo na seleção tupiniquim no meio do próximo ano, quando vencido o seu contrato com o clube 14 vezes campeão da Champions. E embora tal notícia nunca tivesse sido comprovada documentalmente ou mesmo por via do próprio Ancelotti, seja pela falta de negativa do técnico, o seu já histórico de admiração pela amarelinha ou a insistência da própria comissão da CBF, nós compramos o pato mais uma vez.

Na verdade, a prática de descompromissos parece ter se tornado hodierna na entidade. Com presidentes afastados, banidos, casos de corrupção e assédio, a CBF, agora pela pessoa de Ednaldo Rodrigues (também afastado da presidência por irregularidades no último dia 7), se mostrou o maior obstáculo para o sucesso da Seleção Brasileira de Futebol.

Não bastasse a incompetência para definir um ocupante do cargo de treinador, que ficou vago por praticamente sete meses (coisa nunca antes vista na história da maior campeã do mundo), a solução provisória encontrada, colocada como um durex sob o furo antes da reforma definitiva, a contratação de Fernando Diniz como técnico interino, não passou de uma mentira. 

Não se sabe se Ednaldo realmente negociou com Ancelotti de modo a tornar toda a panaceia, ainda que distante, uma possibilidade, ou se as suposições seriam apenas construídas para acobertar a insatisfação quanto à péssima gestão da Confederação.

Lamentavelmente, e para a infelicidade de Ednaldo, a acumulação de maus resultados e o quadro geral de um péssimo desempenho do técnico interino não permitiram que qualquer coisa se construísse no horizonte para o brasileiro, de modo que a troca pelo técnico italiano no meio do ano de 2024 nunca deixou de ser uma expectativa e uma necessidade.

Agora, com essa expectativa quebrada e o prestígio do time diluído, a Seleção Brasileira volta para a posição onde parou, no 5º lugar da lista de seleções FIFA, e mais distante do que nunca do hexacampeonato mundial: a bem conhecida “estaca zero”.