4X1 fora o baile – uma seleção de joelhos

“Quem planta Ednaldo colhe tempestade” – a frase de Lucas Iggor resume bem a noite de terça-feira, 25 de março. Mas talvez seja injusto com a tempestade, que ao menos tem alguma força. O Brasil, não.

Há 61 anos e 62 jogos não perdíamos por 3 gols de diferença da Argentina. Ontem, escapamos de um vexame maior. O placar de 4×1 não reflete a superioridade dos rivais, apenas a misericórdia deles. Vinte anos atrás, com Kaká, Adriano e Ronaldinho Gaúcho, foi o Brasil que impôs um 4×1 em uma belíssima final de copa américa. Mas os tempos mudaram. A seleção de outrora, que atropelava e fazia história, hoje assiste de dentro de campo enquanto outros a escrevem.

Ironia ou não, a goleada veio um dia depois da reeleição de Ednaldo Rodrigues para a presidência da CBF. Afastado pela Justiça em seu último mandato, retornou ao cargo como candidato único, numa eleição que escancara o jogo de cartas marcadas nos bastidores do futebol brasileiro.

Fenômeno, pentacampeão mundial, tentou se apresentar como alternativa ao comando de Ednaldo. Mas se a gestão da CBF é corrupta, o sistema que a mantém também é. Dos 27 clubes visitados por Ronaldo, 23 sequer o receberam – os mesmos 23 que garantiram a reeleição de Ednaldo. No discurso de posse, com o cinismo que já se tornou padrão, ele celebrou: “o golpe não prevaleceu”.

No Brasil, virou hábito chamar de golpe tudo o que desagrada. Mas, na realidade, o que prevalece é a incompetência – e nós, já acostumados a ela, seguimos aceitando.

A Seleção ficou um ano sem técnico após a saída de Tite. Vieram dois interinos, a novela Ancelotti, e, agora, sob os cuidados de Dorival, o time que já respirava por aparelhos foi oficialmente enterrado.

Dorival, aliás, mostrou uma teimosia ideológica com o 4-4-2. Depois do massacre, logo na coletiva, admitiu que “o que ele havia planejado não funcionou logo no primeiro minuto”. Só esqueceu de avisar ao próprio banco de reservas, porque levou 45 minutos para reagir em campo.

O mesmo Dorival que não queria levar Endrick e se recusou a colocá-lo contra a Colômbia, ontem precisou dele de joelhos. Só no início do segundo tempo, já 3×1 para a Argentina, jogou o garoto em campo como um bilhete de loteria amassado: “Vai lá e me salva de novo”. Contra a Inglaterra e a Espanha, Endrick respondeu. Mas milagre tem limite.

Enquanto isso, a Argentina fazia o que sempre fez. Batia. A diferença é que, antes, batíamos de volta. Nos tempos de Adriano Imperador e Luis Fabiano, quando o jogo era pegado, o Brasil prevalecia. Ontem, a Argentina bateu como sempre, mas nós apanhamos como nunca.

Foram 90 minutos de um treino de ataque contra defesa. A Argentina trocava passes enquanto Enzo Fernández e De Paul dominavam o meio-campo e avançavam sem resistência. O Brasil, com quatro atacantes e apenas dois meias, mal conseguia sair da própria área. E quando saía, sucumbia à pressão argentina e perdia a bola imediatamente.

Foram 90 minutos e apenas três finalizações a gol. Uma nasceu de uma falha da zaga inimiga, as outras duas em bolas paradas. O tão falado trio ofensivo, Vinícius Júnior, Raphinha e Rodrygo, funcionou do ônibus para o campo – e só. Depois disso, prevaleceu o futebol de Lionel Scaloni.

Se a Argentina quisesse, teria superado o 7×1 da Alemanha. Mas, depois de um belo pisoteio sobre as 5 estrelas, preferiram nos tratar como um rival menor, administrando o jogo. Um favor, aliás. O 4×1 foi pouco.